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quinta-feira, 11 de novembro de 2010

DISCRIMINAÇÃO RACIAL E BULLIYNG

PLANO DE AULA - REVISTA NOVA ESCOLA - quer saber mais, clique nos ícones da revista ao lado ;

Objetivos


Ler e analisar a obra Caçadas de Pedrinho (1933), de Monteiro Lobato;
Refletir sobre a questão racial;
Discutir o pensamento preconceituoso e as atitudes discriminatórias.

Conteúdo
Literatura – Monteiro Lobato e sua obra.
Tempo sugerido Duas aulas

Introdução
No final de outubro deste ano, o Conselho Nacional de Educação (CNE) publicou um parecer sugerindo a exclusão do livro Caçadas de Pedrinho (1933), de Monteiro Lobato, das escolas públicas – sob a alegação de que a obra trazia conteúdo discriminatório.
A medida alcançou repercussão nacional. Inúmeros leitores que se deliciaram com as histórias do Sítio do Pica-Pau Amarelo vieram a público manifestar sua indignação frente ao parecer. Entre eles, escritores conhecidos como Lya Luft que, consternada, escreveu em sua coluna na VEJA o artigo Crucificar Monteiro Lobato?.
Aproveite a discussão sobre a discriminação racial na obra lobatiana para convidar os alunos a conhecer um dos maiores nomes de nossa literatura infantil brasileira – que soube apontar com precisão os problemas sociais do Brasil da primeira metade do século 20. Mostre à turma que o autor de A negrinha (1920) e As histórias de Tia Anastácia (1937) preocupava-se em denunciar o preconceito racial por meio da representação impiedosa do negro no país.

Desenvolvimento

1ª aula
Pergunte aos alunos o que eles entendem por preconceito. Questione-os sobre as formas de discriminação que conhecem. Indague-os a respeito da relação entre a discriminação e a prática do bullying nas escolas.
Diante das múltiplas respostas, faça uma discussão coletiva sobre as principais questões levantadas. Comece esclarecendo o significado da palavra bullying. Explique à classe que ela é usada para descrever as ações praticadas intencional e sistematicamente por crianças e adolescentes com a intenção de amedrontar e discriminar o outro. Comente com a moçada que tanto uma agressão física quanto uma coerção moral – como os apelidos que zombam de aspectos físicos, por exemplo – se enquadram no conceito. A prática do bullying é um reflexo da intolerância ao outro.
Discuta com a classe como esse problema se insere do dia a dia da escola. Questione os estudantes sobre as razões que levam ao bullying e as maneiras de combatê-lo. Diga à turma que a criança ou o adolescente que pratica o bullying comete uma infração prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e pode ser punido com medidas socioeducativas. Conte também que o Decreto-lei 2848/40 (Código Penal, artigo 140) afirma que a ofensa pode ser punida com prisão de um a seis meses ou multa.
Introduza na conversa a questão do preconceito. Debata com a moçada a relação entre o bullying e as diversas formas de discriminação social e racial. Para ajudar na discussão, apresente aos alunos a cartilha Preconceito não é legal: a intolerância e a lei, de Carlo José Napolitano e Clodoaldo Meneguello Cardoso. O material faz parte do projeto Convivência na diversidade, coordenado pelo Núcleo Pela Tolerância – centro associado ao Laboratório de Estudos da Intolerância (Lei) da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP).
Ao final da aula, a turma deve perceber que bullying e discriminação são dois conceitos que, em geral, andam juntos. Comente com os estudantes que, na aula seguinte, eles vão ampliar a discussão sobre diferentes formas de preconceito.

2ª aula
Pergunte aos alunos se conhecem a história de Emília e sua turma do Sítio do Pica-Pau Amarelo. Em seguida, apresente a eles a obra Caçadas de Pedrinho (1933), de Monteiro Lobato. Pergunte se conhecem o livro. Caso alguém já tenha lido, pergunte o que o aluno achou da obra.
Leve um exemplar para a sala de aula e leia para a classe o trecho em que um jabuti e uma capivara dialogam sobre a relação entre o homem e a natureza (página 23). Diante das mazelas humanas, o jabuti afirma que a solução para os animais é procurar outras terras, livres do contato com o homem. Este sonho utópico é destruído pela voz da capivara: “Não há mais terras habitáveis neste país. Os homens andam a destruir todas as matas, a queimá-las, a reduzi-las a pastagens para bois e vacas”. Conte à classe que, ao longo da história, a tensão entre animais e a turma de Pedrinho vai sendo amenizada, até que eles se tornam amigos de um rinoceronte que escapa de um circo.
Pergunte à turma se, na época em que o livro foi escrito, já havia no Brasil uma grande preocupação ambiental. Os estudantes devem notar que não. Na primeira metade do século 20, os animais silvestres ainda não estavam protegidos pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) e o meio ambiente não era pauta nos jornais.
Questione a moçada, então, sobre as intenções do autor ao colocar um diálogo como esse no livro. Leve os alunos a perceber que Monteiro Lobato faz um alerta aos leitores sobre a importância de uma boa relação entre o homem e o meio ambiente.
Em seguida, leia para os alunos trechos de Caçadas de Pedrinho que retratam a relação entre Tia Anastácia, Dona Benta e as crianças – e que podem ser considerados discriminatórios. Seguem abaixo alguns exemplos:
1) “É guerra e das boas. Não vai escapar ninguém – nem Tia Anastácia, que tem carne preta” (pág. 26).
2) “[...] Tia Anastácia, [...] trepou, que nem uma macaca de carvão, [...] com tal agilidade que parecia nunca ter feito outra coisa na vida senão trepar em mastros” (pág. 39).
3) “E você, pretura? [perguntou Emília a Tia Anastácia] (pág. 41).
4) “Dona Benta arrepiava-se com aquilo. Lera muita coisa sobre as grande feras africanas e sabia que nenhuma existe mais traiçoeira e feroz do que o rinoceronte [...]”
“Tia Nastácia benzia-se. Ignorava o que fosse um rinoceronte [...]” (pág. 42).
5) “A negra, que nada sabia a respeito de rinocerontes, ofereceu-se para ir espantar o bicho com o cabo da vassoura” (pág. 53).
6) “Não é boi, Nastácia, é ri-no-ce-ron-te – emendou Dona Benta”
“Para mim é boi – insistiu a negra. – Não sei dizer esse nome tão comprido e feio. Estou velha demais para decorar palavras estrangeiras” (pág. 66).
Pergunte aos alunos quais aspectos de discriminação podem ser percebidos nessas frases. Eles devem notar que, em alguns casos, as atitudes preconceituosas dizem respeito à questão racial – o fato de Tia Anastácia ser negra é visto de maneira pejorativa. Em outras, dizem respeito à questão socioeducativa dela. Iletrada, Tia Anastácia representa a cultura popular em oposição à cultura erudita de Dona Benta.
Peça, então, que os estudantes leiam o artigo Crucificar Monteiro Lobato?, escrito por Lya Luft para a VEJA. Pergunte se a turma ouviu falar a respeito do parecer do Conselho Nacional de Educação (CNE) que sugere a proibição da obra por supostamente conter conteúdos discriminatórios.
Questione a turma se a visão preconceituosa em relação a Tia Anastácia reflete um preconceito do próprio Monteiro Lobato ou é a maneira que ele encontrou para denunciar um problema existente na sociedade.
Para embasar a discussão, comente com a moçada que o Brasil de Lobato era marcado pela luta do negro contra o rebaixamento, após o processo de abolição da escravatura no país. Apresente aos alunos o seguinte trecho do livro A figura do negro em Monteiro Lobato, escrito em 2008 pela pesquisadora Marisa Lajolo:
Efetivamente, a representação do negro, em Lobato, não tem soluções muito diferentes do encaminhamento que a questão encontra na produção de boa parte da intelectualidade brasileira, e não só da contemporânea de Lobato, como vêm ensinando os estudos de Heloísa Toller. Longe de desqualificar a questão, esta ambiguidade torna-se ainda mais relevante. Mas os melhores ângulos para discuti-la não se esgotam na denúncia bem intencionada dos xingamentos de Emília, absolutamente verossímeis e, portanto, esteticamente necessários numa obra cuja qualidade literária tem lastro forte na verossimilhança das situações e na coloquialidade da linguagem (LAJOLO, 1997, p. 2).
Terminada a leitura, faça alguns questionamentos aos alunos:

- Qual o argumento usado para banir a obra de Monteiro Lobato das escolas?
- Esta medida (caso seja homologada) poderá ser estendida a outros livros? Quais?
- Quais os impactos de adaptar trechos de uma obra e retirar dele as contradições e problemas da sociedade que são retratados?
Dê um tempo para que os alunos discutam e apresentem suas opiniões. Para finalizar o debate, mostre à classe que a Tia Anastácia também é vista com carinho pela turma do Sítio do Pica-Pau Amarelo – e não só pelos quitutes, mas também por sua afetividade com as crianças. Leia para os alunos o final harmonioso da história.
A vitória da Emília foi saudada com berros e palmas. Até o rinoceronte aplaudiu com urros, contentíssimo do feliz desfecho do incidente.
Dona Benta deu um suspiro de alívio e voltou ao terreiro. Queria continuar o seu passeio no carrinho. Mas não pôde. Tia Anastácia já estava escarrapachada dentro dele.
– Tenha paciência – dizia a boa criatura. – Agora chegou minha vez. Negro também é gente, Sinhá... (pág. 71).
Conclua com a classe que Monteiro Lobato foi um autor que, como disse o pesquisador Alfredo Bosi, soube muito bem “apontar as mazelas físicas, sociais e mentais do Brasil oligárquico e da Primeira República, que se arrastava por trás de uma fachada acadêmica e parnasiana”.
Antes de terminar a aula, não deixe de discutir a importância da linguagem presente no texto de Monteiro Lobato. Uma linguagem fluente e coloquial, carregada com a matiz pessoal de um escritor que não se ajoelhava às recomendações da gramática. O escritor foi inovador ao abusar dos recursos da oralidade, uso da metalinguagem e da intertextualidade – além de despertar a consciência crítica do leitor. Como disse Maria Lajolo, ele foi o “marco inaugural da moderna literatura infantil brasileira”.
Quer saber mais?

Bibliografia

- Monteiro Lobato, Livro a Livro, orgs. Marisa Lajolo e João Luís Ceccantini, Editora Unesp
- A figura do negro em Monteiro Lobato. Marisa Lajolo. Disponível em:
http://www.unicamp.br/iel/monteirolobato/outros/lobatonegros.pdf
- Caçadas de Pedrinho. Monteiro Lobato, Editora Globo
- As histórias de Tia Anastácia. Monteiro Lobato, Editora Globo
- Negrinha. Monteiro Lobato, Editora Globo, tel.
- História concisa da Literatura Brasileira. Alfredo Bosi, Editora Cultrix
- Cartilha Preconceito não é legal: a intolerância e a lei. Disponível em:
http://www.faac.unesp.br/extensao/convdiversidade/cartilha.pdf

Consultoria Rodrigo Priante Ugá
mestrando em Literatura e Crítica Literária pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP) e professor do Ensino Médio da Rede Pública do Estado de São Paulo.

1 comentários:

Gabriela Cristina disse...

Estudo no colegio di audi onde o professor Rodrigo dá aulas,ele me deu aulas por 3 anos.Ele é um excelente professor e um insentivador consatante de leitura..